Sombras, bonecos e efeitos audiovisuais são capazes de serem transformados em pessoas, animais e ideias abstratas. No teatro de animação, os recursos convencionais de voz e corpo cedem lugar a uma experiência cênica que exige um conjunto de técnicas para estimular a criação de um mundo imaginário para os espectadores.
Sem a figura do ator tradicional, os espetáculos são repletos de elementos da arte plástica, que ajudam a criar narrativas com a utilização de objetos inanimados. Os bonecos se tornam a extensão da dramaturgia e ganham sentimentos, emoções e ações dos seres humanos.
No teatro de animação, os efeitos especiais têm ainda mais importância na criação da dramaturgia. Cada alteração de luz, cada textura, cada cor ou movimento de objetos oferece um significado contextual e faz com que as histórias cheguem ao público de forma mais leve.
A arte de transformar sombras em personagens é milenar e foi muito difundida na cultura popular mundial. Nas últimas décadas, entretanto, grupos como Lumiato não tem medido esforços para modernizar a técnica. Criado por Thiago Bresani e Soledad Garcia na Argentina, o grupo aprimora os métodos clássicos e leva inovação para o teatro de sombras desde 2008.
Mesmo criado em outro país, o grupo escolheu o Brasil para colocar os métodos contemporâneos em prática. No último espetáculo da companhia, Iara - o encanto das águas, que circulou por Florianópolis (SC) e Curitiba (PR) com patrocínio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura (PPDC), as sombras dos bonecos de mdf dão vida ao conto da sereia brasileira. A técnica desenvolvida pelo grupo para a peça foi apelidada de “bolha de sombra”, um conjunto de efeitos de luz com objetivo de oferecer, para o público, a impressão de ser um filme no palco.
Com toda a brincadeira audiovisual que as sombras e cenário proporcionam, o espetáculo encantou crianças de Santa Catarina e apresentou a arte do teatro animado para 500 estudantes de escolas públicas nos últimos 12 meses. De todas as oito escolas, Thiago Bresani conta que a frase que mais ouviu: “essa é a minha primeira experiência com o teatro”. E, para o grupo, esse é o combustível de novas pesquisas.
Mesmo o teatro de boneco sendo tradicionalmente voltado para o público infanto-juvenil, a companhia Giramundo cria narrativas e estéticas pensada no público adulto há cerca de 50 anos. Criado em Belo Horizonte pelos artistas plásticos Álvaro Apocalypse, Tereza Veloso e Madu, o grupo já montou 36 espetáculos, onde aproximadamente 1.500 bonecos ganharam uma história.
A ideia de grupo de teatro é criar espetáculos multimídia, experimentar novas técnicas de criação e uso dos de bonecos reais e imagens digitais. O espetáculo mais reconhecido do Giramundo é o Orixás que, totalmente reformulado, circulou pelas cidades de Pará de Minas (MG) e Nova Lima (MG) com o patrocínio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura (PPDC).
Há 18 anos a peça ajuda a quebrar as barreiras do preconceito ao contar a história dos orixás, divindades das religiões de matriz africana, de uma forma acessível. Com a utilização de bonecos, projetores e música, Ulisses Tavares, produtor da peça, diz que a inspiração veio da “vontade de homenagear os povos que formaram a nossa nação”.
Mais de 100 crianças tiveram acesso a aulas de teatro com a partir do espetáculo interativo Vento Forte para Água e Sabão. O grupo Fiandeiros, de Recife, levou novas experiências para estudantes de escola pública em Natal e Florianópolis. O projeto foi criado pensando em trazer a tona a discussão sobre o teatro feita para crianças no país, com o mote do "primeiro olhar".
Assim, a companhia ofereceu curso de artes gratuito para crianças que nunca estudaram teatro, promoveram uma visita guiada aos espaços cênicos da cidade e gerou acessibilidade para todos os públicos. Essa importância está na consciência da responsabilidade de falar diretamente com as próximas gerações.
Em 2009, o grupo criou a Escola de Teatro Fiandeiros, que ajuda a suprir uma demanda de formação artística no Recife. Daniele Travassos, diretora de produção do espetáculo, conta que é gratificante contribuir para a formação cultural desses indivíduos. “Estamos fomentando Arte, fazendo com que ela chegue a quem não tem tanta oportunidade. Tudo isso não tem preço”, disse.
Continue lendo sobre Teatro de Rua
Leia nossa entrevista: desafios de fomentar os festivais de teatro no Brasil